sexta-feira, 6 de março de 2009

domingo, 1 de março de 2009

Relatorio ao Roteiro Fernando Pessoa



Dia 19 de Fevereiro numa quinta-feira, deu-se inicio a visita de estudo ao roteiro Fernando Pessoa.
Chegamos ao ponto de encontro por volta as quinze da tarde e a visita de estudo teve inicio minutos depois. Reunimo-nos junto à antiga Loja das Meias, para a Vera dar inicio a sua apresentação sobre um dos espaços que Fernando Pessoa trabalhou, a firma Lima Mayer & Perfeito de Magalhães situada na rua da Betesga. Depois fomos em direcção ao Rossio, para o local onde se situava o café Irmãos Unidos para ver a pintura de Almada Negreiros. A seguir fomos ver a Tabacaria Mónaco decorada com azulejos da Arte Nova ilustrando a fábula da Cegonha e da Rã, com pinturas no tecto antigo mas extremamente belo. Andamos depois ate a rua Arco da Bandeira para a Nadine apresentar o restaurante “O Bacalhoeiro” frequentado antigamente por Pessoa e Sá-Carneiro. Saindo seguimos ate a casa de Ofélia Queiróz no rossio perto do Café Martinho onde Pessoa observava-a na janela. Entrámos depois na estação e vimos os painéis de azulejos de Lima de Freitas com objectivos simbólicos. Continuando o percurso fomos ate ao restaurante Leão D'Ouro onde era antigamente frequentado por Fernando Pessoa e seus amigos, José Malhoa e outros naturalistas. Saindo do restaurante fomos ate aos Armazens do chiado onde Fernando Pessoa foi retratado. Seguimos ate ao elevador de santa justa para ver Lisboa. Voltando ao largo do Carmo o Fábio apresentou primeiro prédio onde Fernando Pessoa viveu sozinho (nº18, 1º esquerdo). Depois fomos para a Basilica dos Martires onde o professor de geometria nos deu alguma informação sobre a sua história e arquitectura, falando-nos também sobre o baptismo de Fernando Pessoa na basílica. Quando o professor acabou a explicação ficamos por um tempo a admirar a basílica e depois fizemos um intervalo para descansar.
Continuando a visita fomos ate A Brasileira, um café bastante frequentado por Pessoa e outros artistas, na explanada do café encontra-se uma estátua de Pessoa sentado. A seguir dirigimo-nos para o largo de S. Carlos onde Pessoa nasceu e onde se encontrava o teatro de S. Carlos local de trabalho do seu pai. Depois fomos em direcção ao largo da Academia Nacional das Belas Artes onde o grupo do Miguel, Rodrigo e Vasco apresentaram o Miradouro Senhora do Monte. Acabada a apresentação caminhamos até a rua do Ouro onde a Ana e o Ricardo apresentaram uma firma fundada por Pessoa. Adiante foi apresentado mais um escritório onde Fernando Pessoa trabalhou, Firma Xavier Pinto, onde recebeu a notícia do suicídio de Mário Sá-Carneiro. Prosseguimos até ao restaurante Martinho da Arcada, onde a Bruna e a Diana fizeram uma parte da sua apresentação lendo uma carta de Pessoa para Ofélia marcando um encontro. No restaurante encontravam-se expostos vários poemas, artigos, fotos de Pessoa e a mesa onde se encontrava com Sá-Carneiro. Continuando com o Grupo Diana e Bruna entramos numa galeria no terreiro do paço para o fim da apresentação, no fim leram um poema feito por elas sobre a rua da Alfandega. Dirigimo-nos em seguida para a rua da Conceição, onde o meu grupo apresentou duas firmas, uma na rua dos Fanqueiros, na rua da vitória e na rua da prata onde conheceu Ofélia. Eu apresentei por ultimo a rua da Vitoria lendo um pequeno excerto do livro o Desassossego e transmitindo algumas informações sobre esta. Por fim com todas as apresentações concluídas demos por finalizada a visita.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Como preservar a Terra


O consumo de cada um deixa marcas de degradação no meio ambiente. Todos os dias, liberamos imensas quantidades de dióxido de carbono, metano e outros gases na atmosfera,intensificando o efeito estufa e aumentando a temperatura média da Terra. Isso provoca as mudanças climáticas que, por sua vez, trarão impactos irreversíveis para nossa vidano planeta.
Mude o consumo para não mudar o climaA forma como usamos produtos eletroeletrônicos, o meio de transporte que escolhemos, o consumo de produtos de madeira e de carne bovina e a nossa produção de lixo estão diretamente relacionados às mudanças climáticas. Mas com pequenas alterações em hábitos diários podemos diminuir consideravelmente nosso efeito negativo sobre o planeta. Veja como é simples.


1. Evite luzes ou equipamentos ligados quando não for necessário.


2. Desligue os equipamentos da tomada, ao invés de desligar apenas no comando. Os aparelhos em modo stand-by continuam consumindo energia.


3. Antes de comprar um novo equipamento, verifique a etiqueta energética e escolha aquele que consome menos energia.


4. Reduza o tempo no banho. Você poupa água e ajuda a diminuir o consumo de energia.


5. Substitua as lâmpadas incandescentes por lâmpadas econômicas. Elas geram a mesma luminosidade, mas poupam 80% de energia elétrica e duram mais.


6. Não ligue a televisão só para servir de companhia, nem adormeça com ela ligada. Programe para que se desligue sozinha.


7. Verifique as borrachas de vedação da geladeira e do forno colocando uma folha de papel entre a borracha e a porta. Se a folha ficar solta, a porta não
está fechando de forma eficiente.


8. Ligue a máquina de lavar roupa e louça apenas com carga máxima. Você poupa água, energia e tempo.


9. Na máquina de lavar roupa, evite a pré-lavagem, exceto quando a roupa está muito suja.


10. Procure utilizar os transportes coletivos. E, para distâncias curtas, opte por se deslocar a pé.


11. Programe as definições do seu computador para ele se desligar automaticamente (hibernar) após um tempo sem ser utilizado.


12. Reduza a quantidade de sacolas plásticas nas suas compras utilizando sacola de pano ou caixas plásticas para compras maiores. Recuse embalagens em excesso.


13. Se for comprar um carro, escolha um modelo
eficiente no consumo de combustível. Dê preferência aos modelos flex e utilize álcool sempre que possível.


14. Separe os resíduos orgânicos e os recicláveis (plásticos,
vidros, latas, papéis) do lixo imprestável, encaminhando para a reciclagem.


15. Compre móveis de madeira e madeira para construção certificadas para garantir que você não está contribuindo com o desmatamento da Amazônia.


16. Pressione o governo para o cumprimento de políticas públicas que promovam a mitigação (diminuição das causas) e a adaptação aos impactos irreversíveis ao clima nos diferentes setores, como energia, transporte, florestas, saneamento,produção agrícola e pecuária.


17. Solicite aos supermercados, restaurantes e fornecedores de alimentos e insumos domésticos que disponibilizem produtos orgânicos ou com certificação de origem ou qualidade de gestão ambiental.


18. Pressione os supermercados que freqüenta para que exijam dos seus fornecedores um sistema de rastreamento que garanta que a carne que compramos não venha de área de desmatamento na Amazônia Legal.


19. Exija desses supermercados a informação sobre a qualidade ambiental dos produtos.


20. Pressione as empresas de produtos eletroeletrônicos das marcas que você consome por produtos mais eficientes no consumo de energia e por informação sobre a eficiência energética deles.


21. Pressione as empresas das marcas que você consome para que criem alternativas para que nós consumidores possamos mudar de forma mais significativa nossos hábitos de consumo.




Roberto Dias Ribeiro

O Indio que sabe o valor da terra


Discurso feito pelo Chefe Seattle ao Presidente Franklin Pierce em 1854, depois do Governo Americano ter dado a entender que desejava adquirir o Território da Tribo.

Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou rescendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem.
O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensivel ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragância das flores campestres.
Assim pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós os índios ) matamos apenas para o sustento de nossa vida.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O meu encontro com Caeiro


Acordei de manhã e olhei para o relógio. Estava atrasada, levantei rapidamente e fui me vestir, sai de casa a correr em direção a rua. Apressada para ir ao encontro de Caeiro corria ao longo das ruas para chegar ao jardim. Quando cheguei estava ele sentado num banco a olhar para as árvores, aproximei-me e disse cansada:
- Bom dia Caeiro desculpa ter me atrasado.
- Bom dia! Porque corres tanto?
Perguntou sorrindo.
- Para não te fazer esperar.
- Esperar?Claro que não. Estava bem acompanhado e chegaste mesmo a tempo de ve-las desabrochar.
- Desabrochar? A quê te referes Caeiro?
- As flores! Já olhaste a tua volta? Observa, sente este pedaço de natureza a tua volta.
- Não estou a perceber, eu já estou a olhar e não vejo nada de especial, só estou preocupada com o que irei fazer na semana que vem.
- Não. Não deves pensar em problemas e questões que te vão incomodar, vive o teu presente agora, desfruta das maravilhas a tua volta.
- Caeiro como podes estar tão descontraído? Não tens problemas para resolver? Como é que não pensas no dia de amanhã?
- Eu não penso sinto. Vivo o presente e não o futuro porque se pensar no futuro não viverei o presente e problemas também os tenho como toda a gente, mas espero a solução, não penso em uma solução. Tu já paraste e olhaste para o céu? Já observaste alguma coisa que se encontra em teu redor?
- Bem sinceramente nunca tinha pensado nisso.
- Vês, aí está o teu problema. Para de pensar! Apenas sente o que te envolve e dá o teu melhor no presente, o futuro vem a seu tempo.
- Mas isso é muito difícil. Hoje em dia há tanta coisa para fazer, para resolver que não tenho tempo para olhar a minha volta.
- Eu compreendo que é difícil para ti que tens uma vida corrida, ao contrário de mim que sou um simples guardador de rebanhos. Mas é mais simples do que imaginas, senta aqui e experimenta usar os teus sentidos.
Sentei-me ao lado de Caeiro e fiquei com um olhar desconfiado e a ouvi-lo, pensava que aquilo não fazia nenhum sentido.
- Vá, agora descontrai e não penses em nada, fecha os olhos e respira fundo……….ouve os pássaros que cantam e voam a tua volta.
Já descontraída comecei a prestar atenção aos sons que ouvia.
-Mas que bela melodia nunca tinha reparado que haviam pássaros que cantavam assim.
-Agora sente a brisa suave que passa por nos carregando o perfume das flores do jardim.
Respirei fundo e senti um leve e doce aroma de flores frescas acabadas de nascer. Nesse momento Caeiro pegou na terra do jardim e pousou na minha mão. Assustei-me pois ainda tinha os olhos fechados.
- O que é isso Caeiro?
-Calma usa o teu tacto para descobrir.
Caeiro pegou-me na mão e abriu-a pondo novamente um pouco de terra do jardim.
-Então o que sentes?
-hmm…bem, acho que é terra húmida.
-Sim é. É a terra que sustenta toda a natureza ao teu redor, que da abrigo aos animais e ao homem, que faz parte de ti e que compõe o mundo.
Nesse momento comecei a perceber o que Caeiro queria dizer. Os meus sentidos estavam mais que apurados e sentia toda a natureza a minha volta mesmo com os olhos fechados.
-Bem acho que já estas pronta para observar o mundo a tua volta. Abre os olhos e agora olha.
Assim que Caeiro acabou de falar abri os olhos calmamente e olhei ao meu redor. Vi os raios de sol passando por entre as arvores e iluminando um tapete de flores coloridas que balançavam com a leve brisa que soprava, vi os pássaros voando e cantando por entre as árvores grande e formosas, com folhas grandes e verdes que muito raramente caiam, vi uma fonte cheia de agua que refletia a luz do sol, que matava a sede dos pássaros e acolhia os peixes que por lá nadavam, vi a terra por baixo dos meus pés que chegava a mexer com tanta vida, vi ate formigas andando apressadas com folhas grandes as contas e por fim olhei o céu límpido azul com algumas nuvens pequeninas brancas que por la passavam.
-Agora já percebes o que eu digo?
Fiquei uns minutos de boca aberta a admirar o que vi de ante de mim e depois respondi.
- Sim tens toda a razão agora eu percebo-te. Como é que eu nunca tinha reparado em tamanha beleza?
-Bem, não és a única que não repara na natureza, normalmente as pessoas estão tão preocupadas com os seus problemas, com o futuro e com o que irão fazer amanhã, que acabam não vivendo o hoje e não aproveitando nem reparando no que têm de bom a sua volta.
-Tens toda a razão, a partir de hoje vou ser como tu!
Caeiro sorriu e disse.
-Fico orgulhoso por gostares da minha maneira de ver a vida, espero que te tenha conseguido ajudar.
-Ajudaste imenso. Se não fosses tu acho que neste momento ainda estaria stressada a pensar nos problemas que tenho de resolver.
Ah! E é verdade, não tínhamos que ir a Brasileira encontrar com o Pessoa?
-Não fica para outro dia, ele deve ter ido a procura da Ofélia.
- Bom se é assim, acho que vou ficar aqui mais uns minutos a admirar a natureza antes de ir embora.
-E eu faço te companhia.
Assim ficamos os dois em silêncio no banco do jardim, apenas a ouvir o barulho dos pássaros que caçavam pequenos insectos para alimentar os filhotes no cimo das árvores e a partir daquele dia nunca mais andei stressada com a vida.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Guia de apresentação para roteiro Pessoa


Esta é a folha lida durante a minha apresentação do roteiro Fernando Pessoa sobre a rua da Victoria. Aqui estão resumidamente as informações que achei mais util sobre este tema.
Algumas das firmas onde Pessoa trabalhou:

-Rua da Victória, n.º 53-2.º Esq. Durante a década de 20, FP frequentava os escritórios de Frederico Ferreira & Ávila, Ld.ª
-Rua da Prata.
-Rua de São Julião
-Rua do Ouro
-Rua dos Fanqueiros
1908 — Começa a trabalhar para escritórios comerciais como correspondente estrangeiro e vai viver sozinho para a Rua da Glória, n.º 4, r/c. Muda-se no mesmo ano para um quarto alugado no Largo do Carmo, n.º 18-1º.


Pequeno excerto do livro "o desassossego"

”Antes o primeiro na aldeia do que o segundo em Roma!” Eu não sou nada nem na aldeia nem em Roma nenhuma. Ao menos, o merceeiro da esquina é respeitado da Rua da Assunção até à Rua da Vitória; é o César de um quarteirão. Eu superior a ele? Em quê, se o nada não comporta superioridade, nem inferioridade, nem comparação?
É César de todo um quarteirão e as mulheres gostam dele condignamente.
E assim arrasto a fazer o que não quero, e a sonhar o que não posso ter, a minha vida, absurda como um relógio público parado.
Aquela sensibilidade ténue, mas firme, o sonho longo mas consciente que forma no seu conjunto o meu privilégio de penumbra.

Pensamento/Reflexão

Estão cheias as livrarias de todo o mundo de livros que ensinam a vencer. Muitos deles contêm indicações interessantes, por vezes aproveitáveis. Quase todos se reportam particularmente ao êxito material, o que é explicável, pois é esse o que supremamente interessa a grande maioria dos homens.
A ciência de vencer é, contudo, facílima de expor; em aplicá-la, ou não, é que está o segredo do êxito ou a explicação da falta dele. Para vencer - material ou imaterialmente - três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.
Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.
Aproveitar oportunidades quer dizer não só não as perder, mas também achá-las. Criar relações tem dois sentidos - um para a vida material, outro para a vida mental. Na vida material a expressão tem o seu sentido directo. Na vida mental significa criar cultura. A história não regista um grande triunfador material isolado, nem um grande triunfador mental inculto. Da simples "vontade" vivem só os pequenos comerciantes; da simples "inspiração" vivem só os pequenos poetas. A lei é uma para todos.



Fernando Pessoa, in 'Teoria e Prática do Comércio'

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Opinião sobre o meu trabalho


Nunca tinha feito um trabalho de português assim e achei bastante interessante, acho que é uma boa forma de incentivar os alunos a escrever e a ganhar gosto pelo português.
Confesso que não tenho muito jeito para a escrita mas tento escrever sempre de coração aberto e tentar transmitir o que sinto mesmo não tendo muito sucesso no resultado final, mas pelo menos tento e vou aprendendo com os meus erros para tentar evoluir cada vez mais. Senti também um pouco de dificuldade devido ao tempo, porque como trabalho e estudo ao mesmo tempo tenho que concilia-los restando-me pouco tempo para elaborar bons textos como gostaria.
Gostei imenso deste trabalho e quando acabarem as aulas tenho como objectivo continuar com o blogue para poder abordar os outros três elementos (água, vento e fogo) e poder desenvolver muito mais a minha escrita.

sábado, 31 de janeiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Homenagem a Walt Whitman


Walt foi um dos maiores poetas americano que lutou pela democracia e seus ideais. Ninguém como ele até então enalteceu, com versos soberbos, o regime dos Estados Unidos da América, além de ter iniciado a emancipação da literatura do seus país do costume de imitar os europeus. Ferndo Pessoa tinha tamanha admiração por Walt que dedicou-lhe uma saudação e esta intitulava-se por:

Saudação a Walt Whitman


"Portugal Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á-á-á!
De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...
Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,
Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente.
Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,
Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,
Quer pela Rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a Rua do Ouro,
E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,
De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.
Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,
Concubina fogosa do universo disperso,
Grande pederasta roçando-te contra a adversidade das coisas,
Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,
Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,
Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,
Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,
E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando Deus!
Cantor da fraternidade feroz e terna com tudo,
Grande democrata epidérmico, contágio a tudo em corpo e alma,
Carnaval de todas as ações, bacanal de todos os propósitos,
Irmão gêmeo de todos os arrancos,
Jean-Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas,
Homero do insaisissable de flutuante carnal,
Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,
Milton-Shelley do horizonte da Eletricidade futura! incubo de todos os gestos
Espasmo pra dentro de todos os objetos-força,
Souteneur de todo o Universo,
Rameira de todos os sistemas solares...
Quantas vezes eu beijo o teu retrato!
Lá onde estás agora (não sei onde é mas é Deus)
Sentes isto, sei que o sentes, e os meus beijos são mais quentes (em gente)
E tu assim é que os queres, meu velho, e agradeces de lá —,
Sei-o bem, qualquer coisa mo diz, um agrado no meu espírito
Uma ereção abstrata e indireta no fundo da minha alma.
Nada do engageant em ti, mas ciclópico e musculoso,
Mas perante o Universo a tua atitude era de mulher,
E cada erva, cada pedra, cada homem era para ti o Universo.
Meu velho Walt, meu grande Camarada, evohé!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir demais...
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica.
Nos teus ver sos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça pra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No teto natural da tua inspiração de tropel,
No centro do teto da tua intensidade inacessível.
Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!
Que nenhum filho da... se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo,
E comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Pra frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em que monto,
Porque eu, por minha vontade de me consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso ser nada, ou qualquer coisa,
Conforme me der na gana... Ninguém tem nada com isso...
Loucura furiosa! Vontade de ganir, de saltar,
De urrar, zurrar, dar pulos, pinotes, gritos com o corpo,
De me cramponner às rodas dos veículos e meter por baixo,
De me meter adiante do giro do chicote que vai bater,
De ser a cadela de todos os cães e eles não bastam,
De ser o volante de todas as máquinas e a velocidade tem limite,
De ser o esmagado, o deixado, o deslocado, o acabado,
Dança comigo, Walt, lá do outro mundo, esta fúria,
Salta comigo neste batuque que esbarra com os astros,
Cai comigo sem forças no chão,
Esbarra comigo tonto nas paredes,
Parte-te e esfrangalha-te comigo
Em tudo, por tudo, à roda de tudo, sem tudo,
Raiva abstrata do corpo fazendo maelstroms na alma...
Arre! Vamos lá pra frente!
Se o próprio Deus impede, vamos lá pra frente Não faz diferença
Vamos lá pra frente sem ser para parte nenhuma
Infinito! Universo! Meta sem meta! Que importa?
(Deixa-me tirar a gravata e desabotoar o colarinho .
Não se pode ter muita energia com a civilização à roda do pescoço ...)
Agora, sim, partamos, vá lá pra frente.
Numa grande marche aux flabeux-todas-as-cidades-da-Europa,
Numa grande marcha guerreira a indústria, o comércio e ócio,
Numa grande corrida, numa grande subida, numa grande descida
Estrondeando, pulando, e tudo pulando comigo,
Salto a saudar-te,
Berro a saudar-te,
Desencadeio-me a saudar-te, aos pinotes, aos pinos, aos guinos!
Por isso é a ti que endereço
Meus versos saltos, meus versos pulos, meus versos espasmos
Os meus versos-ataques-histéricos,
Os meus versos que arrastam o carro dos meus nervos.
Aos trambolhões me inspiro,
Mal podendo respirar, ter-me de pé me exalto,
E os meus versos são eu não poder estoirar de viver.
Abram-me todas as janelas!
Arranquem-me todas as portas!
Puxem a casa toda para cima de mim!
Quero viver em liberdade no ar,
Quero ter gestos fora do meu corpo,
Quero correr como a chuva pelas paredes abaixo,
Quero ser pisado nas estradas largas como as pedras,
Quero ir, como as coisas pesadas, para o fundo dos mares,
Com uma voluptuosidade que já está longe de mim!
Não quero fechos nas portas!
Não quero fechaduras nos cofres!
Quero intercalar-me, imiscuir-me, ser levado,
Quero que me façam pertença doída de qualquer outro,
Que me despejem dos caixotes,
Que me atirem aos mares,
Que me vão buscar a casa com fins obscenos,
Só para não estar sempre aqui sentado e quieto,
Só para não estar simplesmente escrevendo estes versos!
Não quero intervalos no mundo!
Quero a contigüidade penetrada e material dos objetos!
Quero que os corpos físicos sejam uns dos outros como as almas,
Não só dinamicamente, mas estaticamente também!
Quero voar e cair de muito alto!
Ser arremessado como uma granada!
Ir parar a... Ser levado até...
Abstrato auge no fim cie mim e de tudo!
Clímax a ferro e motores!
Escadaria pela velocidade acima, sem degraus!
Bomba hidráulica desancorando-me as entranhas sentidas!
Ponham-me grilhetas só para eu as partir!
Só para eu as partir com os dentes, e que os dentes sangrem
Gozo masoquista, espasmódico a sangue, da vida!
Os marinheiros levaram-me preso,
As mãos apertaram-me no escuro,
Morri temporariamente de senti-lo,
Seguiu-se a minh'alma a lamber o chão do cárcere privado,
E a cega-rega das impossibilidades contornando o meu acinte.
Pula, salta, toma o freio nos dentes,
Pégaso-ferro-em-brasa das minhas ânsias inquietas,
Paradeiro indeciso do meu destino a motores!
He calls Walt:
Porta pra tudo!
Ponte pra tudo!
Estrada pra tudo!
Tua alma omnívora,
Tua alma ave, peixe, fera, homem, mulher,
Tua alma os dois onde estão dois,
Tua alma o um que são dois quando dois são um,
Tua alma seta, raio, espaço,
Amplexo, nexo, sexo, Texas, Carolina, New York,
Brooklyn Ferry à tarde,
Brooklyn Ferry das idas e dos regressos,
Libertad! Democracy! Século vinte ao longe!
PUM! pum! pum! pum! pum!
PUM!
Tu, o que eras, tu o que vias, tu o que ouvias,
O sujeito e o objeto, o ativo e o passivo,
Aqui e ali, em toda a parte tu,
Círculo fechando todas as possibilidades de sentir,
Marco miliário de todas as coisas que podem ser,
Deus Termo de todos os objetos que se imaginem e és tu!
Tu Hora,
Tu Minuto,
Tu Segundo!
Tu intercalado, liberto, desfraldado, ido,
Intercalamento, libertação, ida, desfraldamento,
Tu intercalador, libertador, desfraldador, remetente,
Carimbo em todas as cartas,
Nome em todos os endereços,
Mercadoria entregue, devolvida, seguindo...
Comboio de sensações a alma-quilômetros à hora,
À hora, ao minuto, ao segundo, PUM!
Agora que estou quase na morte e vejo tudo já claro,
Grande Libertador, volto submisso a ti.
Sem dúvida teve um fim a minha personalidade.
Sem dúvida porque se exprimiu, quis dizer qualquer coisa
Mas hoje, olhando para trás, só uma ânsia me fica —
Não ter tido a tua calma superior a ti-próprio,
A tua libertação constelada de Noite Infinita.
Não tive talvez missão alguma na terra.
Heia que eu vou chamar
Ao privilégio ruidoso e ensurdecedor de saudar-te
Todo o formilhamento humano do Universo,
Todos os modos de todas as emoções
Todos os feitios de todos os pensamentos,
Todas as rodas, todos os volantes, todos os êmbolos da alma.
Heia que eu grito
E num cortejo de Mim até ti estardalhaçam
Com uma algaravia metafisica e real,
Com um chinfrim de coisas passado por dentro sem nexo.
Ave, salve, viva, ó grande bastardo de Apolo,
Amante impotente e fogoso das nove musas e das graças,
Funicular do Olimpo até nós e de nós ao Olimpo".


Álvaro de Campos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O significado da Mensagem

A Mensagem é a expressão poética dos mitos, não se trata de uma narrativa sobre os gloriosos feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim de um grande Império de teor espiritual, da construção de uma supra - nação, através da ligação ocidente e oriente. Não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que interessam mas as suas atitudes e o que eles representam, deste modo o assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão a cumprir.
As figuras dos reis são símbolos com diferentes significados. Na primeira parte encontramos o símbolo do brasão que representa o princípio da nacionalidade.
“Ulisses” é o símbolo da representação dos mitos. Apesar de não ter existido bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao entrar na realidade, faz o milagre da vida para “cá em baixo” assumir um papel insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! “Sem existir nos bastou (…) Por não ter vindo foi vindo (…) E nos criou.” O que importa é o que representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal português.
“D. Dinis” é o símbolo da importância da poesia na construção do Mundo. Pessoa vê este rei como capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções. Foi ele que mandou plantar o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.
“D. Sebastião” representa o símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o homem sem loucura não é nada; é apenas uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora D. Sebastião, apesar de ter falhado o acontecimento épico no norte de África, foi em frente e morreu por um ideal de grandeza e essa, é a ideia que deve persistir: “Ficou meu ser que houve, não o que há (…) Minha loucura, outros que a tomem (…) Com o que nela ia.”
Na segunda parte encontramos como aspecto principal o mar português: a realização através do mar em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação.
“O Infante” é o símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
“Mar Português” é o símbolo do sofrimento por que passaram os portugueses: a construção de uma supra - nação, de uma Nação mítica implica o sofrimento do Povo: “ Ó mar salgado, quanto do teu sal (…) São lágrimas de Portugal!”.
“O Mostrengo” representa o símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram de enfrentar para realizar os seus sonhos. O Mostrengo é uma alegoria do medo que tenta impedir os portugueses de realizarem o seu destino.
Na terceira parte encontramos O ENCOBERTO que significa a morte ou fim das energias latentes.
“O Quinto Império” é o símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam, há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro, há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! “Triste de quem vive em casa (…) Contente com o seu lar (…) Sem um sonho, no erguer da asa (…) Triste de quem é feliz”
“Nevoeiro” é o símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado como emocionalmente, mentalmente, etc. Algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltar a ser o que éramos, “Que ânsia distante, perto chora”, mas não temos os meios “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra…”
Esta é a principal obra de "Pessoa ele mesmo" o ortónimo, uma colectânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Alberto Caeiro e eu

Apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos ”que só se importa com uma forma objectiva e natural realidade com a qual contacta a todo o momento.
Considera que “pensar é estar doente dos olhos”, ver é conhecer e compreender o mundo, por isso pensa vendo e ouvindo. Além disso Caeiro é um poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua contente renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é ausência de tempo sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são unidade do tempo.
Caeiro só se interessa por aquilo que capta pelas sensações. Nesta medida, é um sensacionalista. Vive aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, e procura gozá-las com despreocupação o conteúdo original da Natureza, vivendo em harmonia com esta. É sem duvida um mestre para mim, para Pessoa e de outros heterónimos. Dá espacial importância ao acto de ver, mas é sobre tudo a inteligência que discorre sobre as sensações. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
Caeiro com a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos, recusa a metafísica, o misticismo e o sentimentalismo social e individual.
Alberto Caeiro olha para os elementos da Natureza e está sempre atento (animal humano que a natureza produzido). O pensamento para ele gere infelicidade, dor de pensar. Então por isso aceita o mundo tal como é, aceitando a morte estando em comunhão com a natureza, respeitando a terra, usando os seus sentidos como a visão e a audição, recusando o mistério, vendo Deus em tudo ao seu redor, sendo um realista ingénuo com um vocabulário simples e pobre lexicalmente.
Identifico-me muito com Caeiro, pois as vezes sinto-me em comunhão com a natureza e as vezes apercebo-me de uma certa ingenuidade nos meus pensamentos. Tal como Caeiro as vezes não penso apenas vejo, sinto e ouço. Mas quando não tenho inspiração não me esforço nem penso apenas paro e busco com um olhar ao meu redor, ela vem naturalmente, vem com um olhar, uma melodia ou um simples perfume no ar, é só aguardar. Para que pensar, me irritar se ela acaba sempre por voltar? Resta-me apenas esperar, assim como se espera o despontar de uma pequena planta na terra e quando ela volta, a que saber agarra-la com cuidado pois se for apertada ela escapa-nos pelos dedos como areia fina da praia.
Caeiro tem muito para nos ensinar sobre a natureza, a vida e como a deve-mos observar. Aqui vai uma pequena parte do poema de Caeiro com que eu me identifico.
"Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.

O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.

Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição."


in "O Guardador de Rebanhos"

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sentimentos de Ricardo Reis


Ricardo Reis é um poeta de formação clássica, de serenidade epicurista, "pagão por carácter", segue Caeiro no amor da vida rústica, junto da natureza, junto á terra que nos dá frutos e que nos sustenta.
Ricardo Reis aceita com calma a lucidez, a relatividade e a fugacidade das coisas, como o demonstra no poema “ Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do Rio”. Mas, enquanto o Mestre, menos culto e complicado pretende ser ou chega a ser um homem franco e alegre. Reis é um ressentido que sofre e vive o drama da transitoriedade doendo-lhe o desprezo dos deuses.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurista triste, pois defende o prazer do momento (Carpe Diem) como o caminho para a felicidade, contudo, aflige-se com a imagem antecipada da Morte e a dureza do Fado.
Apesar deste prazer na procura pela felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino. Sendo assim Reis um poeta lúcido e cauteloso, constrói, para si a urna da felicidade - relativa, mista de resignação e moderado gozo dos prazeres que não comprometam o seu interior.
Para finalizar, podemos concluir que através da intemporalidade das suas preocupações, a angústia da brevidade da vida, a inevitável Morte e a interminável busca de estratégias de limitação do sofrimento que caracteriza a vida humana, Reis tenta iludir o sofrimento resultante da consciência aguda da precariedade da vida.
Excertos de Ricardo Reis:
"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.” (1914)
"Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez" (1916)


Fonte:Http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Reis

sábado, 10 de janeiro de 2009

Raymond Queneau

Raymond Queneau nasceu em Le Havre, Normandia, foi único filho de Auguste Queneau e Joséphine Mignot. Raymond formou-se em latim, grego, filosofia e estudou na Sorbonne.
Mais tarde teve os seus trabalhos editados pela Gallimard, editora dos vanguardistas franceses, onde começou como leitor em 1938 e depois secretário-geral, trabalhando também na Enciclopédia la Pléiade em 1956.
Em 1950 entra no grupo surrealista Collège de Pataphysique, torna-se eleito para a Academia do Humor (Académie Goncourt) em 1951.
Em França é destacado como autor em 1959 com a publicação do romance “Zazie dans le metro”, (mais tarde adaptado para o cinema) concebido com uma linguagem coloquial opondo-se ao francês escrito na época.
Uma das suas obras mais importantes é o livro “Exercícios de Estilo”, que consiste na apresentação de 99 textos em formas estilísticas diferentes que relatam o mesmo acontecimento presenciado numa paragem de autocarro. Um fait-divers que serve de pretexto para 99 exercícios brincalhões. Alguns desses textos são nos lidos no inicio de cada aula de português. Eu gostei bastante de ouvi-los, porque são extremamente interessantes e mostra-nos que as pessoas apesar de viverem a mesma situação não reagem nem descrevem da mesma forma o que vêem. Para mim, Raymond é um génio, porque é preciso ter-se uma mente muito aberta para descrever a mesma situação mas com uma intenção completamente diferente. Penso que este livro mostra-nos como brincar com a forma estilística das frases, mostra-nos que podemos descrever o que vê-mos com diferentes formas e intenções basta libertar a imaginação e os sentimentos que temos dentro de nós, pois quando estou de mau humor faço uma descrição diferente de quando estou bem-humorada. Por exemplo se pisa-se em terra húmida, poderia descrever “Raios acabei de pisar na lama!” ou então “Quando dei um passo senti a terra húmida e maleável a envolver o meu sapato. “, como podem ver são situações iguais mas com uma descrição totalmente diferente. Penso que todos nós somos capazes de mudar a maneira de ver as coisas ate mesmo os problemas no nosso mundo e da terra, quem sabe se apareceria uma solução se pensássemos assim. Podia-mos todos libertar as nossas diferentes visões de ver o mundo assim como Fernando Pessoa libertou. Mas Fernando Pessoa fez mas do que isso, ele deu “vida” as suas diferentes formas de ver o mundo, criou personagens com as suas diferentes visões. Acho que isso iria libertar o stress de muita gente.