
As figuras dos reis são símbolos com diferentes significados. Na primeira parte encontramos o símbolo do brasão que representa o princípio da nacionalidade.
“Ulisses” é o símbolo da representação dos mitos. Apesar de não ter existido bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao entrar na realidade, faz o milagre da vida para “cá em baixo” assumir um papel insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! “Sem existir nos bastou (…) Por não ter vindo foi vindo (…) E nos criou.” O que importa é o que representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal português.
“D. Dinis” é o símbolo da importância da poesia na construção do Mundo. Pessoa vê este rei como capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções. Foi ele que mandou plantar o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.
“D. Sebastião” representa o símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o homem sem loucura não é nada; é apenas uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora D. Sebastião, apesar de ter falhado o acontecimento épico no norte de África, foi em frente e morreu por um ideal de grandeza e essa, é a ideia que deve persistir: “Ficou meu ser que houve, não o que há (…) Minha loucura, outros que a tomem (…) Com o que nela ia.”
Na segunda parte encontramos como aspecto principal o mar português: a realização através do mar em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação.
“O Infante” é o símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
“Mar Português” é o símbolo do sofrimento por que passaram os portugueses: a construção de uma supra - nação, de uma Nação mítica implica o sofrimento do Povo: “ Ó mar salgado, quanto do teu sal (…) São lágrimas de Portugal!”.
“O Mostrengo” representa o símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram de enfrentar para realizar os seus sonhos. O Mostrengo é uma alegoria do medo que tenta impedir os portugueses de realizarem o seu destino.
Na terceira parte encontramos O ENCOBERTO que significa a morte ou fim das energias latentes.
“O Quinto Império” é o símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam, há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro, há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! “Triste de quem vive em casa (…) Contente com o seu lar (…) Sem um sonho, no erguer da asa (…) Triste de quem é feliz”
“Nevoeiro” é o símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado como emocionalmente, mentalmente, etc. Algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltar a ser o que éramos, “Que ânsia distante, perto chora”, mas não temos os meios “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra…”
Esta é a principal obra de "Pessoa ele mesmo" o ortónimo, uma colectânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo.
1 comentário:
Já tínhamos estudado esta obra, mas está bem...
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