sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O significado da Mensagem

A Mensagem é a expressão poética dos mitos, não se trata de uma narrativa sobre os gloriosos feitos dos portugueses no passado, como em Os Lusíadas, mas sim de um grande Império de teor espiritual, da construção de uma supra - nação, através da ligação ocidente e oriente. Não são os factos históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que interessam mas as suas atitudes e o que eles representam, deste modo o assunto da Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão a cumprir.
As figuras dos reis são símbolos com diferentes significados. Na primeira parte encontramos o símbolo do brasão que representa o princípio da nacionalidade.
“Ulisses” é o símbolo da representação dos mitos. Apesar de não ter existido bastou a sua lenda para nos inspirar. A lenda, ao entrar na realidade, faz o milagre da vida para “cá em baixo” assumir um papel insignificante. É irrelevante que as figuras de quem o poeta se vai ocupar tenham tido ou não existência histórica! “Sem existir nos bastou (…) Por não ter vindo foi vindo (…) E nos criou.” O que importa é o que representam. Daí serem figuras incorpóreas, que servem para ilustrar o ideal português.
“D. Dinis” é o símbolo da importância da poesia na construção do Mundo. Pessoa vê este rei como capaz de antever o futuro e interpreta isso através das suas acções. Foi ele que mandou plantar o pinhal de Leiria, de onde foi retirada a madeira para as caravelas, e falou da “voz da terra ansiando pelo mar”, ou seja, do desejo de que a aventura ultrapasse a mediocridade.
“D. Sebastião” representa o símbolo da loucura audaciosa e aventureira: o homem sem loucura não é nada; é apenas uma besta que nasce, procria e morre, sem viver! Ora D. Sebastião, apesar de ter falhado o acontecimento épico no norte de África, foi em frente e morreu por um ideal de grandeza e essa, é a ideia que deve persistir: “Ficou meu ser que houve, não o que há (…) Minha loucura, outros que a tomem (…) Com o que nela ia.”
Na segunda parte encontramos como aspecto principal o mar português: a realização através do mar em que heróis empossados da grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação.
“O Infante” é o símbolo do Homem universal, que realiza o sonho por vontade divina: ele reúne todas as qualidades, virtudes e valores para ser o intermediário entre os homens e Deus: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
“Mar Português” é o símbolo do sofrimento por que passaram os portugueses: a construção de uma supra - nação, de uma Nação mítica implica o sofrimento do Povo: “ Ó mar salgado, quanto do teu sal (…) São lágrimas de Portugal!”.
“O Mostrengo” representa o símbolo dos obstáculos, dos perigos e dos medos que os portugueses tiveram de enfrentar para realizar os seus sonhos. O Mostrengo é uma alegoria do medo que tenta impedir os portugueses de realizarem o seu destino.
Na terceira parte encontramos O ENCOBERTO que significa a morte ou fim das energias latentes.
“O Quinto Império” é o símbolo da inquietação necessária ao progresso, assim como o sonho: não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam, há que ser ousado, curioso, corajoso e aventureiro, há que estar inquieto e descontente com o que se tem e o que se é! “Triste de quem vive em casa (…) Contente com o seu lar (…) Sem um sonho, no erguer da asa (…) Triste de quem é feliz”
“Nevoeiro” é o símbolo da nossa confusão, do estado caótico em que nos encontramos, tanto como um Estado como emocionalmente, mentalmente, etc. Algo ficou consubstanciado, pois temos o desejo de voltar a ser o que éramos, “Que ânsia distante, perto chora”, mas não temos os meios “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra…”
Esta é a principal obra de "Pessoa ele mesmo" o ortónimo, uma colectânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já tínhamos estudado esta obra, mas está bem...