quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Alberto Caeiro e eu

Apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos ”que só se importa com uma forma objectiva e natural realidade com a qual contacta a todo o momento.
Considera que “pensar é estar doente dos olhos”, ver é conhecer e compreender o mundo, por isso pensa vendo e ouvindo. Além disso Caeiro é um poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua contente renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é ausência de tempo sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são unidade do tempo.
Caeiro só se interessa por aquilo que capta pelas sensações. Nesta medida, é um sensacionalista. Vive aderindo espontaneamente às coisas, tais como são, e procura gozá-las com despreocupação o conteúdo original da Natureza, vivendo em harmonia com esta. É sem duvida um mestre para mim, para Pessoa e de outros heterónimos. Dá espacial importância ao acto de ver, mas é sobre tudo a inteligência que discorre sobre as sensações. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza.
Caeiro com a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos, recusa a metafísica, o misticismo e o sentimentalismo social e individual.
Alberto Caeiro olha para os elementos da Natureza e está sempre atento (animal humano que a natureza produzido). O pensamento para ele gere infelicidade, dor de pensar. Então por isso aceita o mundo tal como é, aceitando a morte estando em comunhão com a natureza, respeitando a terra, usando os seus sentidos como a visão e a audição, recusando o mistério, vendo Deus em tudo ao seu redor, sendo um realista ingénuo com um vocabulário simples e pobre lexicalmente.
Identifico-me muito com Caeiro, pois as vezes sinto-me em comunhão com a natureza e as vezes apercebo-me de uma certa ingenuidade nos meus pensamentos. Tal como Caeiro as vezes não penso apenas vejo, sinto e ouço. Mas quando não tenho inspiração não me esforço nem penso apenas paro e busco com um olhar ao meu redor, ela vem naturalmente, vem com um olhar, uma melodia ou um simples perfume no ar, é só aguardar. Para que pensar, me irritar se ela acaba sempre por voltar? Resta-me apenas esperar, assim como se espera o despontar de uma pequena planta na terra e quando ela volta, a que saber agarra-la com cuidado pois se for apertada ela escapa-nos pelos dedos como areia fina da praia.
Caeiro tem muito para nos ensinar sobre a natureza, a vida e como a deve-mos observar. Aqui vai uma pequena parte do poema de Caeiro com que eu me identifico.
"Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.

O meu misticismo é não querer saber.
É viver e não pensar nisso.

Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo dum outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição."


in "O Guardador de Rebanhos"

1 comentário:

Anónimo disse...

Correcções:
´”às vezes” (atenção ao acento)
Sensacionista, e não sensacionalista.
“Para que pensar, me irritar se…” substituir por: “Para quê pensar e irritar-me se…”